O trem da vida III
Dentro de si
a locomotiva
dos irmâos Lumiére
esse jacto de luz
que iluminou
as salas e os túneis
escuros
e todas as estações
da sua vida.
Nas suas veias
corre a linha do Tua
e o sangue do crime
do Expresso do Oriente
dentro do seu cérebro
um comboio apitou
três vezes.
Depois do Trem das Onze
desalmadamente
o vento fustigava-o
mais a si
que ao casal de namorados
na estação da Parede.
Despertou
em pânico
com os estalidos metálicos
da mudança em Irun
para a bitola europeia.
À flor da pele
aquele Breve Encontro
onde decorre
todo o amor proibido
e todos na mesma carruagem
ele de olhar perdido
na paisagem
de tanto desencontro.
nas entrelinhas
do seus ossos
zunem nos carris
as rodas das carruagens
que chegaram a
todas as Austerlitz's
da história.
Lisboa, 5 de Janeiro de 2014