domingo, 5 de janeiro de 2014

O trem da vida II



Ali vai 
no wagon-lit
deitado no beliche
a mulher dos seus sonhos
por baixo
e um qualquer deus
por cima
ou vice-versa.

Lisboa, 5 de Dezembro de 2014
Carlos Vieira

O trem da vida I



Na minha vida
houve sempre 
um comboio 
a passar
um suburbano
um pendular
e eu no cais 
à tua espera
sabendo já
que não vais
chegar,
outro a partir
tu na janela
a dizer adeus
ou afinal
não eras tu
foi mulher
que inventei
para o teu
lugar.

Lisboa, 5 de Janeiro de 2014

Carlos Vieira

sábado, 4 de janeiro de 2014

Hoje enquanto esperava

Hoje enquanto esperava 
que a chuva amainasse
escorria apenas água
na espada do Condestável
na Pastelaria Oliveira
comia o milésimo pastel de amêndoa
reparo agora 
muitos anos depois dali 
ter jogado à lerpa
que as Capelas 
para além de terem ficado Imperfeitas
há muitos séculos que chove 
lá dentro como na rua.


Lisboa, 4 de Janeiro de 2014


Carlos Vieira

O Lena voltou...

O Lena hoje voltou a ser 
ululando
o rio turvo da minha infância
revi o meu avô
junto à margem de galochas
e chapéu de chuva
debaixo de um salgueiro
a pescar enguias
com um gancho do cabelo
depois a transbordar
na memória imperfeita do vale 
o espelho de água
e o Castelo de Porto de Mós
a navegar.

Porto de Mós, 4 de Janeiro de 2014


Carlos Vieira

Acordes subversivos I


          
                                                     Poema dedicado ao meu amigo "Barrrote"

O tempo era das trevas,
a noite daquele lugar 
era habitada por sonâmbulos, 
por bruxas e outras almas penadas,
as estrelas apodreciam e caiam de maduras
e de repente, ouviram-se estridentes
acordes de uma viola amplificada
e a voz de um demónio plangente
"I can't get no satisfaction!",
fez despertar a aldeia
petrificada.

Lisboa, 4 de Janeiro de 2014


Carlos Vieira

Ave haiku LXXXII



a noite de luar na oliveira 
é um palco de prata onde dois melros 
realizam um teatro de marionetas

Lisboa, 4 de Janeiro de 2014
Carlos Vieira

A enfermeira...


A enfermeira
na sua imaculada aparição, disse " - Ponha-se à vontade!"
Tirou-lhe o sangue, a alma e a razão.

Lisboa, 4 de Janeiro de 2014


Carlos Vieira