sábado, 4 de janeiro de 2014

Acordes subversivos I


          
                                                     Poema dedicado ao meu amigo "Barrrote"

O tempo era das trevas,
a noite daquele lugar 
era habitada por sonâmbulos, 
por bruxas e outras almas penadas,
as estrelas apodreciam e caiam de maduras
e de repente, ouviram-se estridentes
acordes de uma viola amplificada
e a voz de um demónio plangente
"I can't get no satisfaction!",
fez despertar a aldeia
petrificada.

Lisboa, 4 de Janeiro de 2014


Carlos Vieira

Ave haiku LXXXII



a noite de luar na oliveira 
é um palco de prata onde dois melros 
realizam um teatro de marionetas

Lisboa, 4 de Janeiro de 2014
Carlos Vieira

A enfermeira...


A enfermeira
na sua imaculada aparição, disse " - Ponha-se à vontade!"
Tirou-lhe o sangue, a alma e a razão.

Lisboa, 4 de Janeiro de 2014


Carlos Vieira

Ave haiku LXXXI



Aves versus peixes
escamas versos penas
e o poeta de carne e osso para desempatar.

Lisboa 4 de Janeiro de 2014
Carlos Vieira

Não te via chorar...

Não te via chorar há anos
e nem um jardim, como cenário,
tornou o acto menos doloroso de assistir.
Sei que é difícil fazeres o caminho de volta.
Desapareceu, como a casa,
levado pelos ares do desgosto.

Descansa, um dia poderemos falar
sobre quase tudo, menos da vida
que escolhemos ter.


Marta Chaves

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Ave haiku LXXX



Os pássaros estavam tão habituados
que me vinham comer à mão
durante o sono.

Lisboa, 3 de Janeiro de 2014
Carlos Vieira

Poemas são conchas...

Poemas são conchas abandonadas por animais sofredores
que nelas viveram — a beleza que resta
de uns traços da humana errância.

Casimiro de Brito