Por que as pessoas escrevem? Já me fiz tantas vezes esta pergunta que hoje posso respondê-la com a maior facilidade. Elas escrevem para criar um mundo no qual possam viver. Nunca consegui viver nos mundos que me foram oferecidos: o dos meus pais, o mundo da guerra, o da política. Tive de criar o meu, como se cria um determinado clima, um país, uma atmosfera onde eu pudesse respirar, dominar e me recriar a cada vez que a vida me destruísse. Esta é a razão de toda obra de arte.
Só o artista sabe que o mundo é uma criação subjetiva, que é preciso escolher, selecionar. A obra é a concretização, a encarnação do seu mundo interior. Ele espera impor sua visão pessoal, partilhá-la com os outros. Se não atinge esta última finalidade, o verdadeiro artista persiste assim mesmo. Os poucos momentos de comunhão com o mundo valem esse sofrimento, pois finalmente esse mundo foi criado para os outros como um legado, como um dom destinado a eles.
Também escrevemos para aprofundar o nosso conhecimento de vida. Para atrair, encantar e consolar. Escrevemos para acalentar nossos amantes. Para degustar em dobro a vida: no momento preciso e retrospectivamente, na sua lembrança. Escrevemos, como Proust, para tornar as coisas eternas e para nos convencermos de que elas o são. Para podermos transcender nossa vida e alcançarmos o que existe além dela. Escrevemos para aprender a falar com os outros, para testemunhar nossa viagem ao labirinto. Para abrir, expandir nosso mundo quando nos sentimos sufocados, oprimidos ou abandonados. Escrevemos como os pássaros cantam, como os primitivos dançam seus rituais. Se você não respira quando escreve, não grita, não canta, então não escreva porque sua literatura será inútil. Quando não escrevo, meu universo se reduz; sinto-me numa prisão. Perco minha chama, minhas cores. Escrever deve ser uma necessidade, como o mar precisa das tempestades – é a isto que eu chamo de respirar.
Anais Nïn
terça-feira, 31 de dezembro de 2013
Carta de un náufrago
Con el consentimiento de la nieve
caminaré despacio.
Alguien habrá que espere junto al fuego
y yo, que estaré ciega por el frío,
haré paradas breves,
sacudiré el paraguas y empezaré de nuevo.
El único secreto es no sentirse
inmensamente lleno de verdades.
No aceptar nunca las invitaciones
que la neblina
sugiere al anidar con sus disfraces
de paisaje feliz, de grandes sueños.
Alguien habrá que diga, se ha perdido,
alguien saldrá a buscarme,
y llevará el calor de una botella
donde podré mandarte este mensaje.
Ana Merino, De "Los días gemelos" 1997
the safety of objects
I'm trying to find some piece of myself that is truly me, a part that I would be willing to wear like a jewel around my neck. My foot. I love my foot. If I had to send a part of myself to represent myself in some other country, or in some other way, I would amputate my foot and send it wrapped in white tissue on a silk-embroidered cushion. I would send my foot because it is me, more me than I'm willing to let on. There are other parts that are also good - hands, eyes, mouth - but after a few months I might look at them and not see the truth. After a few years I might look at them and think of someone else. But my foot is mine, all mine, the real thing. There is no mistaking it. I look at it; I take off my sock and it screams my name.
Amy M. Homes
o táxi
Quando me afasto de ti
o mundo bate sem força
como um tambor que enfraquece.
Eu chamo-te entre as estrelas lá no alto
e grito pelas cristas do vento.
As ruas, rapidamente,
uma a seguir à outra,
levam-me para longe de ti,
e os candeeiros da cidade furam-me os olhos
para que não mais contemple a tua face.
Porque deverei eu abandonar-te,
para acabar magoada nas afiadas esquinas da noite?
Amy Lowell
o mundo bate sem força
como um tambor que enfraquece.
Eu chamo-te entre as estrelas lá no alto
e grito pelas cristas do vento.
As ruas, rapidamente,
uma a seguir à outra,
levam-me para longe de ti,
e os candeeiros da cidade furam-me os olhos
para que não mais contemple a tua face.
Porque deverei eu abandonar-te,
para acabar magoada nas afiadas esquinas da noite?
Amy Lowell
Gosto de ostras...
Gosto de ostras
do seu cheiro a maresia
do teu aroma remanescente
nas pérolas.
Lisboa, 31 de Dezembro de 2013
Carlos Vieira
Ao fim
Al Cabo
Al cabo, son muy pocas las palabras
que de verdad nos duelen, y muy pocas
las que consiguen alegrar el alma.
Y son también muy pocas las personas
que mueven nuestro corazón, y menos
aún las que lo mueven mucho tiempo.
Al cabo, son poquísimas las cosas
que de verdad importan en la vida:
poder querer a alguien, que nos quieran
y no morir después que nuestros hijos.
Ao FimAo fim são muito poucas as palavrasQue nos doem a sério e muito poucasAs que conseguem alegrar a alma.São também muito poucas as pessoasQue tocam nosso coração e menosAinda as que o tocam muito tempo.E ao fim são pouquíssimas as coisasQue em nossa vida a sério nos importam:Poder amar alguém, sermos amadosE não morrer depois dos nossos filhos.
Amalia Bautista
tradução: Joaquim Manuel Magalhães*
Deitas-te aos meus pés...
Deitas-te a meus pés
e as páginas passam a ser almofadas
recheadas de sonhos
e frutos
e nuvens
e acreditares
e palavras como as que nunca me disseste
Alexander Demidov
e as páginas passam a ser almofadas
recheadas de sonhos
e frutos
e nuvens
e acreditares
e palavras como as que nunca me disseste
Alexander Demidov
Subscrever:
Mensagens (Atom)