Uma bicicleta desperta
e vai rente às nuvens
a campainha estridente...
espanta todas as aves
nos sonhos adormecidas
numa pedalada enérgica
depressa atingirá o cume
vai franquear o silêncio
a razão e um fruto fresco
e inteiro na límpida manhã
após as mãos sujas do óleo
da corrente que saltou
da mudança que não entrou
recortado na lama e alumínio
dos raios da roda traseira
ergue-se o sol sumptuoso
sobre o selim do mundo
depois se tudo correr
como vem sendo habitual
vai ficar cravado nos dentes
desgastados da cremalheira
agora desces pela colina
com um pouco de sorte
a raposa dourada do outro dia
vai atravessar-lhe o pensamento
antes de cortar a meta triste
onde vai chegar isolado
onde ninguém o espera
chega extenuado
de regresso à vida.
Lisboa, 31 de Agosto de 2013
Carlos Vieira
“Dusk Shadows” _ Bycicle Art Painitng