quarta-feira, 3 de julho de 2013

Lince II



Gosto muito de linces
nunca tinha visto nenhum ao vivo
até que um destes dias consegui surpreendê-lo
numa curva da estrada
na orla de um bosque e da madrugada
contra o vento
de orelha levantada e de lombo arqueado
gesto e instante de um felino que nenhuma palavra
pode descrever nem sequer murmurar
por mais ágil e astuto que seja o poeta
ou esteja em causa a sobrevivência
de súbito foi uma correria
desinteressei-me
deixei-o ir
bastam-me por agora as penas da perdiz
dispersas sob a erva do caminho
um momento de brisa a favor
em que me curvo
intenso
sob a poesia.

Lisboa, 3 de julho de 2013

Carlos Vieira


Lince

Lince
palavra em vias de extinção
súbita cintilação
avistada entre a bruma primaveril do poema
e uma vereda da serra da Malcata


Lisboa, 3 de Julho de 2013

Carlos Vieira


segunda-feira, 1 de julho de 2013

Nómada IX



Nó                

                                       
                            
                                                 ma
                                                                                     

                                                                                                       da




sigo o trilho ainda fresco das tuas peugadas na estepe gelada da memória que me resta




muito em breve

neve apenas


alguns líquenes

a despontar


talvez o uivo de um lobo

e tu
em silêncio Dersu


deixa que assim te trate velho amigo


Lisboa, 1 de Julho de 2013
Carlos Vieira




















Imagens do filme Dersu Uzala de Akira Kurosawa