segunda-feira, 1 de julho de 2013

Nómada IX



Nó                

                                       
                            
                                                 ma
                                                                                     

                                                                                                       da




sigo o trilho ainda fresco das tuas peugadas na estepe gelada da memória que me resta




muito em breve

neve apenas


alguns líquenes

a despontar


talvez o uivo de um lobo

e tu
em silêncio Dersu


deixa que assim te trate velho amigo


Lisboa, 1 de Julho de 2013
Carlos Vieira




















Imagens do filme Dersu Uzala de Akira Kurosawa

Nómada VIII



Nómada
que sempre encontra
o que procura
porque o seu sonho
é o caminho
de que nunca conhecerá o fim
sendo sozinho
e apenas só um sonho
nele vai encontrar lugar para todos
que como ele se encontram perdidos
os loucos que o reconhecem
e os marginais que nos habitam
arrasta as correntes ancestrais
e todos os outros
que num súbito frémito de asas da perdiz
saltam os muros das suas prisões
e encontram toda a humanidade.

Lisboa, 29 de junho de 2013
Carlos Vieira


                           Pintura de autor desconhecido




domingo, 30 de junho de 2013

Nómada VII


                                                       Foto de autor desconhecido



Nómada
dos desfiladeiros
com sonhos de sandálias
a morder o pó
perdido pelas encruzilhadas da vida
emboscado por serpentes
desafiando este tempo agreste
das ideias feitas
entre uma trama de espinhos
e a curiosidade dos melros
peregrino.

Lisboa, 29 de Junho de 2013
Carlos Vieira


Nómada VI


Nómada
que carrega todos os vales e estuários e desertos
em sobrevoo
após alcançar o cume das montanhas
oiço-o praguejar
pode-se ouvir à sombra da história
o coaxar das rãs e o besouro dos insetos
migalhas contadas entre pássaros e árvores
e pressinto o último suspiro
de uma estrela cadente
a espreguiçar-se
nas bermas da sua memória.

Lisboa, 29 de junho de 2013
Carlos Vieira



                      “Le Nomade” de Michelle Chiecchio

sábado, 29 de junho de 2013

Nómada V


Nómada
que nunca parte
e que nunca fica
sendo de todas as viagens
não é de nenhum rumo
nem de lugar nenhum
assume violentamente
a liberdade de pertencer ao seu mundo
ou de não pedir licença de entrar
pelo coração a dentro de qualquer um
segue o perfume da rosa dos ventos.

Lisboa, 29 de junho de 2013
Carlos Vieira


                                   Obra de Jo Enaje


Nómada IV



Nómada
que se sentou
no largo 
dos que por ali vivem
e conta uma história
para onde vão partir
aqueles que por ali ficam.

Lisboa, 29 de junho de 2013
Carlos Vieira



Foto de Jim Denevan

Nómada III


Nómada
acende a fogueira
e a máscara do seu rosto
nas suas rugas
pode-se percorrer os percursos
de uma alegria solar
o inacessível silêncio das lágrimas
que nos libertam
o primeiro rumor do frio da madrugada
nos lábios gretados
e irradiando no cantos dos seus olhos
vincos e linhas de fuga
de momentos surpreendentes
e outros de difícil esquecimento
apenas a fogueira
afasta do nómada
os predadores sem máscara
confinam-no
a uma liberdade sitiada.

Lisboa, 29 de junho de 2013
Carlos Vieira



                “Regarde Vieux” de Marie Laure Piffeteau