no muro de arestas vivas
um tufo de flor é a sombra perturbada
de uma breve coroa de espinhos que amadurece
no muro a sub-reptícia lagartixa
devora a pedra e uma ilha de musgo verde
a camisa branca desfraldada de Goya porém permanece
no muro a súplica de uma janela
o desespero sitiado dos miseráveis e foragidos
derradeira cintilação de asas ou da lucidez de um lenço que escurece
no muro branco do nosso calabouço
aceso dos riscos para os dias e das grades para as noites
é a fronteira da liberdade e o arame farpado dentro dos
homens que cresce
Lisboa, 18 de Março de 2013
Carlos Vieira