sexta-feira, 15 de março de 2013

Reflexos tímidos de rouxinol

Reflexos tímidos de rouxinol
Lâminas rasgando o espelho de água
Imperturbável é a ternura das amoras suspensas

Lisboa, 15 de Março de 2015
Carlos Vieira

O rouxinol acende e apaga a lua ou o salgueiro?...

o rouxinol acende e apaga a lua ou o salgueiro?
oiço o teu coração na sombra
se o rio correr à noite apenas se ouvirá a rã

Lisboa, 15 de Fevereiro de 2015
Carlos Vieira

Tange os ramos da árvore...

tange os ramos da árvore
como se fossem cordas e o braço da guitarra
do buraco negro sai gente que de seu só tem o luar e a música

Lisboa, 15 de Fevereiro de 2013
Carlos Vieira

O rouxinol salteador...

o rouxinol salteador
a 1,65, ultrapassa a fasquia dos teus lábios
e voa até às nuvens

Lisboa, 15 de Fevereiro de 2013
Carlos Vieira

Tempo de subir as árvores...

tempo de subir as árvores
de cavalgar essas nuvens verdes pousadas na terra
trincando a fruta madura como quem beija

Lisboa, 15 de Fevereiro de 2013
Carlos Vieira

quinta-feira, 14 de março de 2013

Oiço o canto da ribeira...

oiço o canto da ribeira que corre neste lúgubre casebre
sei dele ao longe no fumo branco sobe ao céu pela chaminé
e ao fim da tarde sei da montanha curvando-se aos seus pés
toda esta paisagem cresce inútil como erva dentro de mim
no entanto sempre que penso naquela montanha adormeço
e a chaminé é uma ponte por onde passam os pensamentos
solitária sobre a falésia e a erva uma humilde casa de madeira
é o meu barco à vela de um sonho onde sopra o canto da ribeira

Lisboa, 14 de Março de 2013
Carlos Vieira

domingo, 10 de março de 2013

Um outro dia a mesma mulher


 

 

Mulher relâmpago

que cruzas meu dia de água

de aves e vozes cristalinas

e acendes

pérolas nas árvores

como crianças luminosas

à chuva

a tamborilar

em barrigas de vento

peixes e trovoadas breves

nas nuvens do medo

do olhar de colher o sol

e acalmar a fome

mulher relâmpago

de plantar raízes incandescentes

no céu para sonhar

pássaros subterrâneos

inconformados

teus dedos

rasgando o lençol de água

na tempestade interior

a solidão do pêndulo

nunca resignada

de parir um raio

e um outro mundo

 

Lisboa, 9 de Março de 2013

Carlos Vieira

 

                                              “Mulher relâmpago”  Escultura de Paige Bradley