sábado, 9 de junho de 2012

Amores de Verão IV


tudo isto me deixa um vazio

uma indiferença

nem um músculo se move

nem um sorriso

dentro de mim

nada se comove

estou moribundo

submerso na asfixia

de um meio dia de areia

e da água salgada

só tu emerges meu amor

e vens na minha direcção

enfeitada de limos e algas

só tu me podes levar

da morte para o mundo



Lisboa, 9 de Junho de 2012

Carlos Vieira


                                                           “Night Spectre on the Beach”

Amores de Verão III




as ondas da praia

estão quase a chegar

as crianças brincam  à apanhada

as bandeiras acenam-nos

para nadar

no meio de tanta areia

de tanto sol e tanto mar

só quero estender a toalha

nesta antiga brincadeira

do sol me apanhar

já nada disto me interessa

verdadeiramente

tudo é excessivo

o sol és tu

agora noutro lugar



Lisboa, 9 de Junho de 2012

Carlos Vieira

                                                                   Foto de autor desconhecido

Amores de Verão II



as aulas

estavam quase a acabar

quero lá saber do saber

sou um barco que não navega

à espera do sopro da noite

quero tudo ignorar

no meio da multidão cega

deixem-me estendido

na berma da estrada

sou aquele que te procura

no meio do tráfego

que sabendo de tudo

sem saber de ti

não sabe de nada



lisboa, 9 de Junho de 2012

Carlos Vieira


                                                      “A rapariga na praia” de Edvard Munch

Amores de Verão


I


eis o verão

que bate à minha porta

já não me interessa

que mude a estação

que chova torrencialmente

que troveje

e aluam os caminhos

e os relâmpagos iluminem o nada

sem ti

apenas se revelam

as ruínas do mundo



lisboa, 9 de Junho de 2012

Carlos Vieira



                                      Delacroix Prints – “Greece on the Ruins of Missolonghi”