quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012
Dois poemas sem pão e sem título
I
o pão é alvo
a fome é negra
as letras são magras
e correm como loucas
pelas folhas em branco
são pássaros neste tempo
de Inverno rigoroso
que buscam as migalhas do poema
do pão que o diabo amassou
II
pensar o poema
juntar-lhe o fermento
ir ao forno da memória
das noites de pão quente
ou de antes disso
do pão ázimo
dos versos mal cozidos
que a mãe trazia pela mão
de volta à casa
da fome e do medo
Lisboa, 22 de Fevereiro de 2012
“Saint blessing of bread, together with an elderly lady and a young ” por Jusepe de Ribera
terça-feira, 21 de fevereiro de 2012
NOIVADO
Estendeu
os braços carinhosamente
e avançou, de mãos abertas
e cheias de
ternura.
- És tu Ernesto, meu amor?
Não era. Era o Bernardo.
Isso não
os impediu
de terem muitos meninos
e não serem felizes.
É o que faz a
miopia.
Mário-Henrique Leiria
(Contos do Gin-Tónico)
Antoine Watteau
Crepúsculo mascarando as árvores eas faces
Com o seu manto azul, sob um disfarce incerto;
Uma poalha de beijos rondando as bocas lassas...
Surge terno o que é vago e longínquo o que é perto.
A mascarada, outra longe melancolia,
Faz o gesto de amar mais falso, triste encanto.
Capricho de poeta - ou prudência de amante,
Que para adornar o amor há que ter maestria -
Eis barcas, libações e harmonias.
Marcel Proust
"The Feast of Venice" - Antoine Watteau
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