quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012
terça-feira, 14 de fevereiro de 2012
Terra à terra
Há dias em que dentro de nós há sementes de fúria
vamos pela noite fora e faíscam lâminas de charrua
a esventrar a terra do eterno descanso
há dias em que mordemos de raiva a côdea da terra
e irrompendo pelos caminhos das trevas
somos a incansável perícia do trigo
há dias de tropeçar nos torrões a agonizar nas planícies
do estrangulado desespero de raízes
de pressentir a minha sombra debaixo da terra
há dias que recordo o cheiro intenso depois das chuvas
e do vapor que se libertava das entranhas da terra
agora só a memória me deixa respirar
há dias em que dormimos abraçados eu e a terra
há dias que parecem noites em que não durmo
depois vou acordar já morto nos teus braços
Lisboa, 14 de Fevereiro de 2012
“Who am I” pintura de Maximilian Toth
segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012
Light breaks where no sun shines - Dylan Thomas
A luz rompe onde o sol não brilha;
Onde o mar não corre, as águas do coração
Avançam suas marés;
E, quebrados espectros com pirilampos nas cabeças.
As coisas da luz
Insinuam-se na carne onde carne não cobre os ossos.
Um círio entre as pernas
Aquece a juventude e o sémen e queima o sémen da idade;
Onde sémen se não agita,
O fruto do homem incha nas estrelas,
Brilhante como um figo;
Onde cera não há, o círio mostra os seus cabelos.
A alvorada rompe atrás dos olhos;
De mastros do crânio e dedos dos pés o soprante sangue
Desliza como um mar;
Sem muros nem estacadas, os borbotões do céu
Esguicham para a vara do vedor
Num sorriso o óleo das lágrimas.
A noite nas órbitas arredondada,
Como uma luz de paz, o limite dos globos;
O dia acende o osso;
Onde frio não há, as ventanias desprendem
As vestes do Inverno;
A película da Primavera pende nas pálpebras.
A luz rompe em lotes secretos,
Em pontas do pensar onde os pensamentos cheiram mal na chuva;
Quando a lógica morre,
O segredo do solo cresce pelos olhos dentro,
E o sangue salta ao sol;
Por sobre os terrenos vagos a alvorada pára.
...
Light breaks where no sun shines;
Where no sea runs, the waters of the heart
Push in their tides;
And, broken ghosts with glow-worms in their heads,
The things of light
File through the flesh where no flesh decks the bones.
A candle in the thighs
Warms youth and seed and burns the seeds of age;
Where no seed stirs,
The fruit of man unwrinkles in the stars,
Bright as a fig;
Where no wax is, the candle shows its hairs.
Dawn breaks behind the eyes;
From poles of skull and toe the windy blood
Slides like a sea;
Nor fenced, nor staked, the gushers of the sky
Spout to the rod
Divining in a smile the oil of tears.
Night in the sockets rounds,
Like some pitch moon, the limit of the globes;
Day lights the bone;
Where no cold is, the skinning gales unpin
The winter’s robes;
The film of spring is hanging from the lids.
Light breaks on secret lots,
On tips of thought where thoughts smell in the rain;
When logics die,
The secret of the soil grows through the eye,
And blood jumps in the sun;
Above the waste allotments the dawn halts.
Dylan Thomas (1914 - 1953)
tradução: Jorge de Sena
domingo, 12 de fevereiro de 2012
A besta
A besta
está de pé sobre o prado
e um sonho espezinhado
baixa os cornos
e nós somos o sonho
a besta cega
que cá dentro
se baixa
ou investe
por todo o lado.
Lisboa, 12 de Fevereiro de 2012
João Carreira
“Reflecting the beast” Lee Zimmerman
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