sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Linha do Tua é a morte anunciada dos transmontanos - JN

Linha do Tua é a morte anunciada dos transmontanos - JN

Era uma vez uma linha, um comboio, um rio selvagem...um país!

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

O céu é das crianças!


I
Vi nos seus olhos
de menino
pântanos a levedarem a fome
escolhos de silêncio
e gritam e “es-correm” pelo jornal
nós ficamos de cabeça à roda
ou mudamos de página
como quem muda de paisagem

II
E ali ficam eles crianças
presos a nós
como grilhões sem nome
manchados pelas notícias
ficam nossos dedos
de todas as áfricas
de todas as perplexidades
neste sucessivo abuso
da sua nudez
agora embrulhada
nas primeiras páginas


III
Na indisfarçável vergonha
fazendo-se fortes
no disfarce dos medos
na agressão
da sua mão estendida
vendem pensos rápidos
na sua vida
que segue interrompida
na luz vermelha
em carne viva
em todos os semáforos

IV
Nota-se contudo o desgaste
a desilusão
as vidas e as mortes prematuras
nas elipses das cristas papilares
sinto-as todos os dias
em sapatos que nascem da sua mão
e tropeço em sonhos de pé descalço
e custos de produção

V
Uma carícia de criança
é uma flor que não tem preço
neste tempo das crianças sem ruas
e de crianças de rua
isso que fazes não é brincar
nem é esse preço que se pague
pela ternura

VI
Cada vez
há mais filhos sem família
e há mais famílias sem filhos
cada vez mais abandonados
ou completamente sós
ainda crianças e já rodeados de filhos
crianças que nunca tiveram família
crianças que são pais e mães de família
crianças que aprendendo a amar a solidão
para não ficarem completamente sós
podem ficar para sempre sozinhas

VII
Crianças
que andam “à escola”
que não andam na escola
que sempre andaram na escola
que sempre vão andar na escola
que nunca foram crianças
que serão sempre crianças
sendo certo que as escolas
são para as crianças
que as escolas são
cada vez menos
para as crianças

VIII
Crianças
que sabem escrever
e que não sabem ler
que sabem ler
e não sabem escrever
e que sempre passaram de ano
e que fintam o insucesso
na escola da vida
sem saber ler nem escrever

Lisboa, 27 de Dezembro de 2011
Carlos Vieira

A inteligência da criança observa amando e não com indiferença – isso é o que faz ver o invisível.
(Maria Montessori, pedagoga italiana)
                                                            Fotografia de Kevin Carter

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Nick Cave - Are you the one that i've been waiting for

As Cartas


As Cartas

Esperas os sinais da minha existência.
Eu transcrevo-te mas não vivo no poema.
Morro na mancha de papel. Ûma carta cai
no matagal como um pássaro. O não ser
caçadora dá-me um sentido conciso da
realidade. Nem os belíssimos perdigueiros
me sentirão passar aqui. Eles

não me vêem até ao âmago. Tudo
o que é exterior e visível como
o corpo atrai-os. Tenho um limite
onde estou e nada está. As cartas
caem diante da avidez de cães.
Vou existir onde jamais vivi.

Âmago antologia - Fiama Hasse Pais Brandão

Edward's Lullaby Original piano song

Anne Sofie von Otter w/ Brad Mehldau "Calling You" @ Opéra Garnier (Paris)

Annie Lennox - Cold