sábado, 24 de dezembro de 2011

Luzes de Natal

As luzes de Natal
Não iluminam
Tremem de frio

As luzes de Natal
Brilham
Vemos mais pobres

As luzes de Natal
A acender e a apagar
O sono das sombras

As luzes de Natal
No presépio
A estrela apagada

As luzes de Natal
O comércio
Não está brilhante

As luzes de Natal
A mulher mudou de rua
Não mudou de vida

AS luzes de Natal
Não, são os clarões
Dos canhões de 30 mm
As luzes de Natal
Dançam na noite fria
Da cidade deserta

As luzes de Natal
Aos milhares nas ruas
Escondem as estrelas do céu

As luzes de Natal
O olhar e os olhos da criança pobre
Sem brilho

As luzes de Natal
E os cães vadios
Não descansam à noite

As luzes de Natal
Todo o ano só naquela cela
Se permitiu o brilho da opinião.

As luzes de Natal
Acesas na vida dos mineiros chilenos
E na morte dos da Nova Zelândia

As luzes de Natal
E a mão estendida
Dentro do bolso
As luzes de Natal
Glória efémera
De morte anunciada

As luzes de Natal
Penduradas nos discursos oficiais
Já cansados do futuro

As luzes de Natal
De plástico, eléctricas, a velar
A morte prematura das árvores jovens

As luzes de Natal
Flores de melancolia
E solidária solidão


Lisboa, 18 de Dezembro de 2010
Carlos Vieira

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39º

A ave que arde na garganta sufoca o grito
Um golpe de asa apaga-se no olhar
O rescaldo é feito de gestos de silêncio aflito
Ternura exausta de árvore secular

Lisboa, 16 de Junho de 2010
Carlos Vieira