terça-feira, 2 de outubro de 2012

CARTA DE ALFORRIA



este poema aguarda
os que se assustam
da porta que se abre
da porta que se fecha
da chave na ranhura
dos dentes cerrados
na liberdade e na loucura
da corrente de ar

de espreitar o círculo do medo
e de fecharem os olhos
das mãos crispadas de raiva
das mães

os que se assustam
das mãos estrangulando
a vergonha
da carta das viúvas
que ainda se desconheciam
das notícias inesperadas
e das que há muito esperavas

guarda nas rimas
o silêncio do medo
das alturas e dos abismos
dos lugares que são do vazio
e das multidões
e dos sobressaltos
da paz e da guerra

guarda os desse medo
feroz do contratempo
que é a fome dos seus
e de todos os outros
dos que receiam
em não haver tempo
e daqueles sobrevivem
com todo o tempo do mundo
a uma insensata solidão
a titubear os estribilhos
das canções
dos que apenas murmuram
cansaço e desolação
em busca de um poema
que seja o passaporte
a viagem e o salvo conduto
a ponte e a passagem
para um país de coragem
carta de alforria
do campo de concentração
latente dentro de nós

Lisboa, 1 de Outubro de 2012
Carlos Vieira

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