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sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Poema de Álavro de Campos

Álvaro de Campos


sábado, 25 de janeiro de 2014

Novela curta

NOVELA CURTA



O meu amigo Moreira mandou uma vez construir, num quintal velho que tinha, uma casa elegante para um cão. Encarregou d'isso um mestre de obras, que, atraído pela estranheza do assunto e pela suposta loucura do criador do proposito, construiu uma espécie de chalet digno de ser pago, sem sobras, por alto preço.
Quando a casa para o cão estava pronta, o Moreira compareceu e aprovou. Elogiou o mestre de obras, e foi-se embora, meditando.
Dias depois, quando o mestre de obras apareceu com a conta, o Moreira pediu-lhe que o acompanhasse ao quintal velho. Chegados ali, disse-lhe com enternecimento, apontando para a casa do cão.
- Olhe, mestre, meta a conta ali dentro. Ela é que é o cão.

Álvaro de Campos (Fernando Pessoa)

sábado, 28 de dezembro de 2013

Ode ao Tejo e à memória de Álvaro de Campos


E aqui estou eu, ausente diante desta mesa — e ali fora o Tejo.
Entrei sem lhe dar um só olhar.
Passei e não me lembrei de voltar a cabeça, e saudá-lo deste canto da praça: "Olá, Tejo! Aqui estou eu outra vez!"
Não, não olhei. Só depois que a sombra de Álvaro de Campos se sentou a meu lado me lembrei que estavas aí, Tejo.
Passei e não te vi. Passei e vim fechar-me dentro das quatro paredes, Tejo!
Não veio nenhum criado dizer-me se era esta a mesa em que Fernando Pessoa se sentava contigo e os outros invisíveis à sua volta, inventando vidas que não queria ter.
Eles ignoram-no como eu te ignorei agora, Tejo.
Tudo são desconhecidos, tudo é ausência no mundo, tudo indiferença e falta de resposta.
Arrastas a tua massa enorme como um cortejo de glória, e mesmo eu que sou poeta passo a teu lado de olhos fechados, Tejo que não és da minha infância, mas que estás dentro de mim como uma presença indispensável, majestade sem par nos monumentos dos homens, imagem muito minha do eterno, porque és real e tens forma, vida, ímpeto, porque tens vida, sobretudo, meu Tejo sem corvetas nem memórias do passado...


Adolfo Casais Monteiro