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domingo, 19 de fevereiro de 2012

Breve epifania do amor de Pedro e Inês



        "Obra de Lima de Freitas"


Breve epifania do amor de Pedro e Inês

os monges percorrem os claustros, o silêncio, a horta
o silêncio e os claustros
nos monges há um perfume dos legumes frescos 

dou-te a minha mão
enigma de carne macia e hortelã
e um deslumbramento de sangue empolga
o teu coração de calcário
sob a cúpula da manhã

os frades depois das matinas tinham tempo
paciência e temperamento
os doces aromas conventuais dos frades 

acordámos dos nossos sonhos de pedra
na surpresa das gentes por seres tão jovem
o mar que bramia aturdido da tua morte
no nosso sono eterno
era um choro interior 

no convento havia punhais, cânticos e andorinhas
perpendiculares às lâminas de luz
que atravessavam os vitrais e as orações 

nas noites seculares da insónia
levantávamo-nos do túmulo dos dias
e banhávamo-nos no rio
nunca morrem
os que não saram a cicatriz da história

 Lisboa, 18 de Fevereiro de 2012

 Carlos Vieira