sábado, 18 de julho de 2015

Na orla de um referendo



Deito-me à sombra 
de mim mesmo
e do chapéu de praia
incrédulo
depois de um mergulho
de alma lavada
esqueço as penas
e as divídas
de ouvido no chão
oiço o bramir
das pequenas ondas
a ressoar 
na filigrana das pedras
da beira-mar
agito sem orgulho
o branco e alguma gordura 
do meu corpo
perante o escultural bronze
da maioria do veraneante
profissional
a refulgir na areia
escuto o pulsar
do coração da terra
uma ou outra gaivota
as andorinhas do mar
e as crianças
cabeças no ar
vão fazendo a pontuação
a brincar
soltando grasnidos
de Verão 
rasgando frestas 
no céu azul
interrompendo
na praia
pequenos dramas
anónimos
no murmúrio da multidão
que se entrega
e paira
que descansa
e desmaia
enterram a cabeça na areia
numa indiferença olímpica
ao sim ou ao não
da tragédia grega.

Albufeira, 5 de Julho de 2015
Carlos Vieira

"Construindo unidade, suportando identidade"

Rafael Argullo

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