sábado, 28 de junho de 2014

Discernir



Discernir
é uma palavra
que me atrai
e isso me impede
de lhe descobrir
o cerne
dando-me o ânimo
para prosseguir
escravo
do seu mistério

ir até ao cerne 
da palavra
é de alguma forma
como ir
ao centro da terra
e voltar
o que nos reconduz
a decantar
a luz e o sal
e inventar
o princípio do mundo

perceber
a força que emana
da fragilidade
translúcida
do cristal
da voz
e voltar a discutir
o adquirido
admirando-o
de outro ângulo
um átomo
que saboreio
no céu da boca

e na fragância
que a flor exorta
possuir
a essência
verdadeira
e do momento
extrair a precária
beleza da corola
e a silenciosa
clarividência
e equilíbrio
do caule
que a sustenta

e neste jardim
submerso
ficar sem respirar
perante
a quietude
dos animais
e das plantas
sem esquecer
que na superfície
aparente
das palavras
se esconde o grito
e a angústia 
do amor que não
corresponde
e a incapacidade
de discernir
as muitas mortes
de quem ama.

Lisboa, 28 de Junho de 2014
Carlos Vieira



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