domingo, 8 de março de 2015

A andorinha de azeviche...


A andorinha de azeviche
de um golpe fulminante
feriu de morte 
a manhã
com a cimitarra

das suas asas
desembainhadas
ficou a borbolejar 
a luz
silenciosa
esquartejada pelos muros 
e pela caliça 
no agonizar das casas térreas
onde se percebe
um rumor de artroses
e bicos de papagaio
a luz crua 
devolve-nos
a tristeza da ausência
das crianças
no ar 
há o mofo das arcas
a súbita andorinha negra
espalha a Primavera
pelos campos
das colheitas abandonadas
raros camponeses
atónitos
num gesto largo e generoso
ainda fazem voar
uma vaga de fé e de sementes.


Lisboa, 8 de Março de 2015
Carlos Vieira




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