sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Prognóstico reservado



A vida está presa por um fio
e por a hora da morte.
Estão a entrar em colapso
os órgãos vitais.
A palavra moribundo
caiu em desuso,
já sobreviver não caiu,
é mais oportuno dizer
que está às portas da morte
e falar das portas fechadas
da esperança
ou que  tem prognóstico
muito reservado
e  com as piores expectativas.
Vivemos
esta escolha meticulosa de palavras
para o limiar da morte
e para o mínimo de dignidade da vida.
Esta recusa
e este medo em nomeá-la,
esta pobreza envergonhada
reconduz-nos à dificuldade
em olhá-la nos olhos,
de frente,
à morte que se fez vida,
em soprar-lhe ao ouvido um insulto
“grande cabra!”
Murmurar-lhe,
tu que o me queres levar
acertaremos
mais tarde contas
aqui nesta morte ou na outra vida.
Já te vi muitas vezes 
à minha frente,
mais vezes do que seria desejável.
Simpatizo com a expressão
está a travar
a sua derradeira batalha,
porque todas as batalhas em que estamos
são sempre as últimas
e abomino
esta morte lenta
do dia a dia que nos tolhe,
este continuar ligado à máquina.

Lisboa. 3 de Janeiro de 2014

Carlos Vieira

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