sábado, 16 de junho de 2012

a vida por um tri(s)te


a vida por um tri(s)te



regressa à página vazia

a esse torpor húmido

de uma primavera sem flores

à asa suspensa

no aparo do medo

dentro de si procura a palavra

a raiz primordial

rastilho para o grande “boom”

do princípio de um novo mundo

as sôfregas mãos

presas nessa hidráulica

que liberta a corrente

da humanidade

que faz cair o pano

e o atordoa do espanto das aves

fósforo que acende o sorriso no olhar

o dedo a florir no gatilho

espreitas no longo cano negro da vida

o dourado projéctil

que tornaria vermelha a solidão

sem um pingo de tinta no coração

ele ali está exangue

depois da noite em branco

de regresso ao “felizmente à luar”

da última folha

ao deve e haver do amor e da morte

às estatísticas

de uma maior esperança de vida



Lisboa, 16 de Junho de 2012

Carlos Vieira

                                                      
“La Page Blanche” René Magritte

Sem comentários:

Enviar um comentário