terça-feira, 11 de março de 2014

Demoro...

Demoro
tanto tempo a encontrar-te
meu amor
sempre jogas às escondidas
sem me dizer nada
culpas-me 
de não me esforçar 
o suficiente
eu vivo
com essa sensação
que um dia
te escondas definitivamente
que não saibas 
o caminho de volta
ou eu me perca
nos labirintos do tempo
e me atrase
ao chegar à tua vida
sempre
tão urgente.

Lisboa, 11 de Março de 2014
Carlos Vieira

Leio...

Leio 
as contra indicações
as doses
os tempos
tomar um remédio
é um extenso ritual
de angústias.

Lisboa, 11 de Março de 2014
Carlos Vieira

Uma mulher...

Uma mulher
na mesa em frente
lê o jornal
alguém chegou
noivo
amante
velho amigo
e experimentou
nos seus belos
lábios
o sabor das notícias.

Lisboa, 11 de Março de 2014
Carlos Vieira

segunda-feira, 10 de março de 2014

sem semente



o camponês
retirava do saco
uma mão cheia
de sementes
e lançava-as
à terra
como se fosse Deus

agora

o camponês
retira do saco
uma mão cheia
de nada
e atira-se à terra
um Deus desesperado

Lisboa, 10 de Março de 2014
Carlos Vieira







um tractor...

um tractor
cor de laranja sujo
no seu olhar vítreo
e o palheiro destelhado
observam-me
vencidos
pelo abandono rural


Lisboa, 10 de Março de 2014

Carlos Vieira

se nascer...

se nascer uma andorinha
dou início
à Primavera

Lisboa, 10 de Março de 2014

Carlos Vieira

Um gato...

um gato sobe a árvore
os pássaros
não interromperam o canto

Lisboa, 10 de Março de 2014

Carlos Vieira