domingo, 6 de maio de 2012

Discussão

 

- Desconfio que a democracia não resulta. Juntam-se astronautas,
bodes, camponeses, galinhas, matemáticos e virgens loucas e
dão-se a todos os mesmos direitos.
Isso parece-me um erro cósmico. Desculpa.

Desculpei mas fiquei ofendido. Que a democracia era aquilo
mesmo, e ainda com conversa fiada como brinde, isso sabia eu.
Que mo viessem dizer, era outra coisa.
Fiquei ainda mais ofendido, até porque não gosto de erros cósmicos.
Acho um snobismo.

- Eu sou democrático - rugi entre dentes, como resposta. - Tenho
amigos no exílio, todos democráticos.
Foram para lá por serem democráticos.
É um sacrifício que poucos fazem, ir para o exílio e ser professor
universitário exilado e democrático.
Eras capaz de fazer isso ?

- Não sou democrático.

Não havia resposta a dar. Nenhuma. Ele não era democrático, não
sabia de democracia.

Eu sim, sou democrático, até já quis ir à América, que me
afirmaram que lá é que é a democracia.

Recusaram-me o visto no passaporte, disseram
que eu era comunista!
Viram isto ?

Mário Henrique Leiria
Contos do Gin-Tonic

Rodrigo Leão & Cinema Ensemble - Casino Estoril ( A Mãe)

sábado, 5 de maio de 2012

Perdeu-se a vergonha!


Alemanha deixa Hollande “salvar a face”, mas espera que mantenha compromissos - Economia - PUBLICO.PT

Ute Lemper - Pirate Jenny - Live

CIbelle - Green Grass

O crime perfeito (I)

 

no leito entreaberto o lençol era um enorme jarro flor, de onde escorria o marfim que já foi anterior ao gestos de despertar e se prolongava na camisa de dormir que escondia o corpo frágil. uma rosa de sangue parecia levar a luz dos caracóis loiros. pétalas de luz floriam nas frinchas da persiana e acendiam a metade da água que repousava na jarra de vidro sobre a mesa de cabeceira. aí havia muitos comprimidos completamente brancos semeados no caos. um choro ténue de mãe ou de filha surgiu como um riacho debaixo da porta com foz num aposento contíguo. havia aquele intruso no espelho que era eu. que fazia ali a usurpar a cumplicidade doce e morna da madrugada deste quarto? somente aquele cheiro recente de pólvora me era familiar e que apontava para que algures calada, se poderia encontrar a flor fatal, até que no esquadrinhar minucioso do olhar ela ali estava, de prata caída, depois da última primavera de fogo, a pistola tinha adormecido num sono solto,  sob o tapete creme de angorá, planeando outra trair a vida noutro jardim interior.

Lisboa, 5 de Maio de 2012

Carlos Vieira

                                                           
                                                          A Morte de Desdemona - Delacroix

Romy Schneider La chanson d'Helene