Incidente
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quinta-feira, 26 de dezembro de 2013
Ave haiku XLV
As ondas vão mansamente comer-lhe à mão
nos seus pés a areia é de oiro vivo
nos seus olhos claros voltejam as andorinhas do mar.
Lisboa, 26 de Dezembro de 2013
Carlos Vieira
quarta-feira, 25 de dezembro de 2013
Ave haiku XLV
Os corvos cobrem os céus,
antes que as nuvens os devorem
a noite virá resgatá-los.
Lisboa, 25 de Dezembro de 2013
Carlos Vieira
Ave haiku XLIV
Um ganso, dois gansos, três gansos
Konrad Lorenz vai à frente
e eu vou atrás.
Lisboa, 25 de Dezembro de 2013
Carlos Vieira
Ave haiku XLIII
Seu rosto no espelho tolda-se ou este embacia,
acende a luz, senta-se à mesa farta, serve-se do vazio
e enterra a cabeça na areia como a avestruz.
Lisboa, 25 de Dezembro de 2013
Carlos Vieira
Ave haiku XLII
Na esteira de um cisne
seguiu meu olhar escravo da beleza
e calou-se derradeiro o canto.
Lisboa, 25 de Dezembro de 2013
Carlos Vieira
Ave haiku XLI
Do pátio o peru
observa-me glugluglu na varanda
eu glugluglu hipnotizado pela lua cheia.
Lisboa, 25 de Dezembro de 2013
Carlos Vieira
Ave haiku XL
No salgueiro vibra o canto do rouxinol,
na perigosa curva do rio,
os automóveis vão mais devagar.
Lisboa, 25 de Dezembro de 2013
Carlos Vieira
Ave haiku XXXVIX
Pavões passeando sobre a relva do parque
abrem o esplendor da sua cauda em leque
cabeças coroadas com banco de jardim por reino.
Lisboa, 25 de Dezembro de 2013
Carlos Vieira
Ave haiku XXXVIII
Um pombo vespertino na janela manuelina,
arrulhando madrigal,
faz a corte, arrasta a asa, em renovado ritual.
Lisboa, 25 de Dezembro de 2013
Carlos Vieira
terça-feira, 24 de dezembro de 2013
Ave haiku XXXVII
Colibri ou beija-flor
razão mínima de pássaro breve
invocando precário odor.
Lisboa, 24 de Dezembro de 2013
Carlos Vieira
Ave haiku XXXVI
A perdiz faz seu voo rasante,
na mira do caçador
agitaram-se as espigas de trigo.
Lisboa, 24 de Dezembro de 2013
Carlos Vieira
Ave haiku XXXV
Noite escura como breu
Da janela, o mar encapelado, de raiva espuma
as cagarras regurgitam o Pico, soltam-se da bruma.
Lisboa, 24 de Dezembro de 2013
Carlos Vieira
Ave haiku XXXIV
O abutre, ave necrófaga
devorando a morte, enquanto outras,
heráldicas e de rapina, pairam sobre a vida.
Lisboa, 24 de Dezembro de 2013
Carlos Vieira
Ave haiku XXXIII
O falcão fulgurante
foi da fome à abundância
num instante.
Lisboa, 24 de Dezembro de 2013
Carlos Vieira
Ave haiku XXXII
Sobreviver a este dilema libertino,
entre a altanaria do falcão tagarote
e a alcandorada solidão do peregrino.
Lisboa, 24 de Dezembro de 2013
Carlos Vieira
Ave haiku XXXI
Gravetos, barro, musgo e palha de centeio,
na ângulo morto dos troncos, sonhos de menino,
os ninhos, intrincados poemas do princípio da vida.
Lisboa, 24 de Dezembro de 2013
Carlos Vieira
segunda-feira, 23 de dezembro de 2013
Ave haiku XXX
Ao fim do dia no cesto de vime do almoço
o meu pai trazia-me o pássaro destemido
ou faminto a quem "ofereceu" migalhas.
Lisboa, 23 de Dezembro de 2013
Carlos Vieira
Ave haiku XXVIX
Um pássaro no balouço da gaiola,
outro abre as asas no poema,
a mesma obsessão pela liberdade.
Lisboa, 23 de Dezembro de 2013
Carlos Vieira
Ave haiku XXVIII
Armei a rede
no bebedouro
fui capturado na minha sede.
Lisboa, 23 de Dezembro de 2013
Carlos Vieira
Ave haiku XXVII
Os pardais de telhado caíam pela chaminé,
eu abria a porta da cozinha
e libertava os pássaros pensando que fugiam.
Lisboa, 23 de Dezembro de 2013
Carlos Vieira
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